Saturday, March 26, 2011

Diário da terra do gelo 7

O Canto da Völa

Convido-vos a ouvir-me, seres sagrados,
Poderosos e humildes descendentes de Heimdall:
Tu, Alfadir, queres que eu revele os destinos primitivos
Dos deuses e dos homens, os mais antigos de que tenho lembrança.

Lembro-me dos gigantes nascidos na aurora dos tempos,
Daquele que outrora me deram nascimento
Conheço nove mundos, nove domínios cobertos pela árvore do mundo.
Essa árvore sabiamente edificada que enterra as raízes no seio da terra.

Era no começo dos tempos em que Ymir vivia.
Não havia areia, mar, ondas refrescantes.
Não se via terra ou abóbada celeste.
Era um abismo gigantesco sem vegetação.

Era antes de os filhos de Buri terem erguido a crosta terrestre,
E edificado a esplêndida morada de Midgard.
O sol luzente do sul brilhava sobre os rochedos da terra:
E o solo cobriu-se de plantas verdejantes.

O sol do sul, o companheiro da lua,
Estendeu a mão direita para a orla do céu,
O sol não sabia o seu caminho;
A lua não conhecia o seu poder;
As estrelas não sabiam onde era o seu lugar.

Os deuses subiram para os seus cadeirais de juízes;
As divindades sagradas reuniram em concílio:
Deram um nome à noite e às fases da lua:
Regularam a hora da manhã e o meio do dia,
A tarde e o crepúsculo para medir o tempo.

Os Ases reuniram-se nas planícies de Ida.
Edificaram santuários e templos;
Construíram fornalhas, forjaram ouro,
Moldaram tenazes e fabricaram alfaias.

Jogaram aos dados no recinto e deram largas à sua alegria...

Profecia islandesa do séc. XI, traduzida por Maria Jorge Vilar de Figueiredo e publicada na antologia Rosa do Mundo, uma edição da Assírio & Alvim.

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