Friday, March 16, 2012

Mesa 1 do FLM

19h40: A ditadura do discurso económico e da troika e o papel do intelectual escritor foram os temas fortes desta mesa, que decorreu em tom de conversa. Não houve intervenções individuais. Pontos de vista diferentes sobre uma realidade actual que, segundo estes escritores, não fazia mal nenhum saltar para as páginas da ficção.

19h39: Fim da sessão.

19h37: Se até a Bíblia diz que a usura é algo condenável, se o maior best-seller diz isto, de que estamos à espera? Como se gritava há 20 anos: Não pagamos.

19h37: Para terminar, pede-se uma nota alegre a Pedro Vieira.

19h35: Fajardo lembra Karl Kraus: Os homens toleram fazer a guerra mas não tê-la feito.

19h34: A troika não são mais representantes de quem fez especulação, atira Rui Nepomuceno.

19h31: Fajardo: Tudo foi reduzido a uma mercadoria.

19h28: Agostinho da Silva dizia que Cultura é comer bem, vestir bem e ter onde dormir. Sem isso, não se tem nada, adianta Patrícia Reis.

19h26: Conversa sobre a educação dos filhos. O que devem fazer?

19h23: O que a troika faz é pressionar as pessoas e levar os mais jovem a dizer: o futuro é um país lá longe.

19h22: Patrícia Reis, citando David Lodge: Os escritores são quem melhor espelham o seu tempo.

19h20: Continua o escritor espanhol. Temos de ouvir opiniões diferentes. Não há uma só visão dos acontecimentos. Temos de combater a ideia da troika segundo a qual a crise é isto, por causa disto e por isso é preciso fazer isto.

19h19: Fajardo: Um humorista espanhol dizia que: Temos de escolher entre a crise e o caos. Então o caos. Vai dar ao mesmo.

19h18: O tema era a felicidade. E é muito interessante como veio parar aos intelectuais, brinca Fajardo.

19h15: Rui Nepomuceno: Também tenho escrito para jornais e sinto isso.

19h13: Fajardo lembra que trabalha nos jornais há 32 anos. E diz que imprensa livre não existe. Não conheço nenhuma. Que jornalista pode confrontar o seu conselho de administração?

19h11: Patrícia Reis diz: Uma vez escrevi uma crónica sobre Angola. E duas semanas fui despedida. Nem sempre é fácil.

19h09: Fajardo: A ideia de intelectual escritor tem o seu exemplo maior a Émile Zola, de denúncia pública. É esse o modelo.

19h08: Procura entrar no sistema do discurso para o poder atacar.

19h06: Às vezes perguntam-me se não devia fazer crónicas mais literária, à Lobo Antunes. Mas eu acho que os intelectuais quando são chamados à comunicação social e aceitam devem ter uma intervenção pública crítica. Para que não haja sempre as mesmas ideias.

19h05: Os intelectuais saíram de cena. E é pena.

19h04: Escolhermos sexo branco ou sexo de marca é uma atitude política.

19h03: Interessa perceber que as coisas humanas são muito semelhantes.

19h02: Há uma ideia de felicidade terrena, de facto. Mas é preciso saber apanhar o que vai acontecer e apanhar o que já aconteceu.

19h0: Todos os temas já foram tratados. Estamos sempre a começar e a esquecer. A não cultivamos a memória histórica.

19h00: A questão é: hoje temos a oportunidade de estarmos dentro e fora do nosso tempo, estar aqui e agora e ver o tempo antigo.

18h59: Mensagem ou estética?

18h58: Mas a literatura de meio termo nunca será. É o tal produto branco.

18h57: Inês Pedrosa concorda. Diz que o realismo socialista levado ao extremo denegriu o papel do intelectual. Por outro lado, também houve um isolamento da universidade, para evitar essas contaminações ideológicas.

18h56: De encontro literário para encontro literário, José Manuel Fajardo melhora o seu português, ele que mora em Lisboa, com a sua mulher, a escritora Karla Suárez.

18h56: Não falo de realismo social. Mas há muitas maneiras de viver que estão prestes a desaparecer na europa. O mundo campesino, por exemplo.

18h55: A bola passa para Fajardo. No século XX fizeram-se coisas extraordinária. O Realismo, como uma explicação do mundo. E uma literatura quase autista. Entre uma e outra temos de tirar algumas ilações.

18h54: Às vezes é possível conseguir conciliar as duas coisas.

18h54: Melhor quadro de Picasso. Guernica.

18h53: Com todo o direito de fazerem arte pela arte, se o escritor acrescentar à arte formal um contributo para mudar a sociedade cumprirá bem a sua função.

18h52: Rui Nepomuceno: O escritor deve procurar acima de tudo uma grande beleza formal. Falar dos problemas da sociedade, mas tratar bem a língua. Mas um escritor num momento destes, olha para a sua barriga e fica quieto? Não procura analisar o que se passa?

18h51: Uma mesa em ping-pong. Cada um pede a palavra.

18h50: O nosso problema é este, diz Inês Pedrosa. O nosso Presidente da República acha que a Utopia foi escrita, não pelo Thomas More, mas pelo Thomas Mann. Pelos alemães. Pela visão da troika.

18h49: Como escritores temos uma certa responsabilidade, não na crise. Apenas fomos um bocadinho estúpidos. Vamos levados levar por esse constante consumir. Hoje temos a responsabilidade de entrar na maneira de viver das pessoas e dar a ver como se vive hoje em dia. Tem de haver uma parte da literatura que faça isso. É um instrumento fundamental para mudar o discurso da explicação da crise.

18h48: E a Utopia é um livro. O que nos leva à escrita, que é uma procura dessa felicidade.

18h46: Todos damos por natural o direito a sermos felizes antes de mortos. Antes, era depois. Esta ideia  muito moderna, não tem mais de cinco séculos. Tem a sua origem na descoberta da América e da Utopia de Thomas More. Aí se plasma pela primeira vez a ideia de felicidade antes da morte.

18h45: Se escrevemos melhor ou pior com a crise. É como o sexo. Com ou sem crise, escrevemos sempre. Às vezes melhor, às vezes pior.

18h44: Fajardo diz que não há solução. É o tal discurso sobre a crise e sobre nós próprio. Se consumimos é porque consumimos. Se não consumimos é porque não consumimos. As mesmas razão que levam à crise são apresentadas para solucionar a crise.

18h43: Conversa sobre a quantidade de casas e telefones dos portugueses. Crítica ao consumismo.

18h42: Há livros que são escritos em alturas de grande sofrimento.

18h41: Vivemos períodos muitos complicados na nossa história. Há o papão da troika. E deixa-nos menos criativos, não. Mas deixa-nos mais instáveis. E a comunicação social tem alguma culpa. Não há uma boa notícia.

18h40: Patrícia Reis discorda de alguns aspectos. Diz que para trabalhar é preciso alguma tranquilidade. E a crise interfere muito na vida de um escritor.

18h38: Para acabar, quero citar o Olli Rehn, que diz: "A Europa continuará a ajudar portugal". Como escritor isto é muito mau. Mas como ficcionista é muito bom.

18h38: Esta semana aprendi muita coisa.

18h37: Não sabia: em grego, crise quer dizer decisão. E em alemão, culpa.

18h37: Gargalhadas na plateia.

18h36: Num estudo da colecção de ensaio de pingo doce li que em tempos de crises se consome mais marcas brancas. Mas isso é mais difícil na literatura. Quer dizer, pode dizer-se que José Rodrigues dos Santos é uma marca branca do Dan Brown.

18h35: A crise é boa para os artistas de variedades e humor. Não é boa para a literatura que têm de parecer mais sérios. A não ser que saibam brincar com isso.

18h34: É difícil elaborar uma tese em relação a sermos felizes ou infelizes literariamente com ou sem crise.

18h33: Mas quando se publicou melhores romances, antes ou depois do 25 de abril. Há bons autores antes e depois.

18h33: Uma felicidade minha. Não ter vivido durante a ditadura.

18h32: Fiquei assustado. Porque momentos maus só quando o meu tio deu uma chapada ao meu pai. Virou sem-abrigo até voltar a morar lá em casa. Será que chega?

18h31: Infância felizes não fazem bons romancistas, dizia a Rosa Montero. E dava exemplos.

18h30: Pedro Vieira's turn: Agradecimentos iniciais. Nunca pensei estar num palco tão bonito, com tantos veludos. Pelo menos antes de morrer.

18h29: Temos de esperar que a autonomia regressa, seja acompanhada de Democracia, que nem sempre houve, e de Cultura.

18h29: Sermos mais ou menos felizes, depende de nós. Sou optimista. Já enfrentámos coisas piores. E um optimista é sempre feliz.

18h28: Eram outros tempos. Até deu para esconder um buraco financeiro.

18h28: Mas brincando um pouco, antes da Troika, havia outras formas de alegria. Os bancos andavam atrás de nós. Só queriam emprestar dinheiro.

18h27: Sem Cultura as pessoas não participam.

18h27: Mas esse não desenvolvimento da Cultura não foi bom. Todo o dinheiro que se aplica na Cultura dá retorno.

18h27: Aí houve uma espécie de felicidade colectiva. Mas neste processo houve uma coisa que foi esquecida. A Cultura. Conseguimos montar uma universidade.

18h26: Depois do 25 de Abril isso mudou e até aumentou com os financiamentos da Europa. Isso deu origem um crescimento. Regionalizou-se os serviços, salvo algumas excepções. Passámos a gerir os nossos interesses.

18h25: Com a autonomia vem o crescimento material. Antes do 25 de Abril 2/3 das receitas iam para o continente. Era quase uma situação colonial.

18h24: Desde o tempo dos meus avós que lutámos por Democracia e Autonomia. E essa autonomia trouxe alegria? Eu julgo que sim.

18h23: Referência ao 25 de Abril como se viveu na Madeira. Com a Revolução conseguimos felicidade.

18h22: É a vez de Rui Nepomuceno. Venha o bonito sotaque madeirense.

18h21: Citação de Fernando Savater: Dizem que o mundo está muito mal, mas eu recusava-me a nascer antes da invenção da anestesia.

18h20: O slogan do Pessoa é, por isso, muito bom. Ele hoje ganharia muito dinheiro em publicidade. Éramos felizes e não sabíamos. Só somos felizes nos intervalos. Não nos apercebemos dela.

18h19: Estamos no domínio do discurso económico, morreram os desuses, embora nem todos. E ouvimos os novos deuses, os economistas, e eles só dizem banalidades.

18h18: Outra citação de Inês Pedrosa, agora de Antonio Tabucchi: O medo é a infelicidade, a infelicidade é o medo.

18h17: Vergílio Ferreira dizia: A felicidade não está em nós mas no que acontece em nós desse acontecer.

18h17: Já fiz a experiência. Como é que estás? Estou óptima, digo eu. As pessoas ficam ofendidas.

18h16: Em Portugal é frequente perguntar-se: como estás? Vai-se andando, responde-se. Fomos pessimistas, ao contrário dos Espanhóis. Mas também não tivemos grandes catástrofes, como a Guerra Civil Espanhola. Moderados no bom e na tragédia.

18h14: Quando se ouvem discurso políticos muito eloquentes, será que as pessoas acreditam mesmo isso? O que me leva perguntar: será que se não vivermos no dia a dia seguindo o que acreditamos podemos fazer algo de melhor pela sociedade?

18h13: Entra em campo Inês Pedrosa. "Não sei se Marx contribuiu para a felicidade colectiva. Tentou criar regras para a distribuição colectiva, apesar das posteriores utilizações totalitárias. Mas mesmo ele que se preocupava com os outros cuidava muito mal dos da sua família".

18h12: "É desta percepção que nasce o sentimento de felicidade ou não da vida. O relato ou discursos, como contamos a vida a nós próprio, é importante para nos sentirmos ou não felizes. O mesmo aplica-se a uma sociedade".

18h12: Fajardo continua: "Quando falamos de felicidade falamos da nossa percepção da vida".

18h11: "É preciso distinguir a felicidade pessoal e a colectiva. Uma amiga minha dizia que quando era pequena, durante a Guerra Civil Espanhola, era muito feliz, por mais contraditório que possa parecer. O mundo para as crianças é livre. Por issso, é possível ser feliz em momentos muito trágicos.

18h10: Afinal, todos vão responder à pergunta. Fajardo diz que os espanhóis têm muita capacidade de rir, mas que isso pode ser uma máscara.

18h09: Patrícia diz que podemos continuar a ser felizes se quisermos. A vida toda ouviu falar de crise.

18h08: O moderador pergunta se a palavra é felicidade ou insuffisance.

18h07: Começa Patrícias Reis.

18h06: Vai começar. Castanheira da Costa apresenta os convidados.

18h05: Um ligeiro atraso para deixar entrar alguns espectadores.

18h04:



18h02: Os convidados são Patrícia Reis, José Manuel Fajardo, Inês Pedrosa, Rui Nepomuceno, Pedro Vieira e moderação de Castanheira da Costa.

18h01: O tema é Éramos felizes e não sabíamos.

18h00: Tudo apostos para o início da primeira Mesa do Festival Literário da Madeira.

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