Nem todos os livros conseguem esse feito extraordinário que é ser citado, comentado, criticado e sugerido antes de ser lido. É o que dá ser capa da “Time” (em Agosto passado): operação de marketing mais eficaz não há. Diz a revista que Jonathan Franzen pode não ser o maior escritor da atualidade, mas é aquele que melhor descreve a sociedade norte-americana. E talvez seja verdade. Acompanhando os últimos 50 anos da história do país, “Liberdade” é uma longa e perturbante viagem ao “great american dream”, das universidade no midwestern às artimanhas empresariais no Iraque, das dúvidas existenciais às certezas que querem impor ao mundo, das crises afectivas às facadas no matrimónio, da liberdade individual à tragédia colectiva. Temas diversos que são filtrados por uma família em que nada parece bater certo. Como nos EUA.
LIBERDADE
Jonathan Franzen
Dom Quixote
25 de Abril
De um escritor que já fez aparecer em plena av. Gago Coutinho um líder mouro do sec. XI, com a missão de conquistar Lisboa, tudo se pode esperar. E a mesma fértil imaginação está na origem das histórias deste novo livro. São 10 contos divididos em quatro partes, sendo a maioria inédita e os restantes repescados de antologias ou revistas. Para aguçar a leitura diga-se que “O Homem do Turbante Verde” é o chefe de um exército com quem uns arqueólogos vão ter de negociar a sua liberdade, depois de terem sido erradamente presos.
O HOMEM DO TURBANTE VERDE
Mário de Carvalho
Caminho
25 de Abril
Como descrever um livro de Ana Teresa Pereira? Um homem e uma mulher, uma casa, muito nevoeiro, alguns fantasmas, várias obras de arte que remetem a narrativa para o mundo do cinema, do teatro, da música e das artes plásticas. É um universo único no panorama literário português e tem muito de labiríntico. É fácil entrar, mas difícil de sair. E no seu interior é possível encontrar múltiplos sentidos. Tudo isto, recorde-se, em doses regulares, já que a escritora mantém o seu ritmo de publicação anual.
A PANTERA
Ana Teresa Pereira
Relógio d’Água
28 de Abril
Nick Cave é mais um daqueles casos em que tanto talento junto chateia. Além de ser um grande letrista e cantor, é também um escritor de invejável expressividade. Claro que a sua escrita, como a sua música, não está ao serviço da ideia de perfeição. Se leu a “Poética”, de Aristóteles, foi para perceber o que não fazer. Veja-se “E o burro viu o anjo”, o seu primeiro livro, agora re-editado. À semelhança de “A Morte de Bunny Munro”, esta é uma peregrinação pela América profunda, feita de luz e de muita escuridão.
E O BURRO VIU O ANJO
Nick Cave
Objetiva
4 de Abril
Habituado a escrever policiais, não foi com dificuldade que o cubano Leonardo Padura se lançou naquele que é um dos maiores projectos da sua carreira literária: traçar a biografia de Tróski e do seu assassino, Ramón Mercader. Este último é o homem que gostava de cães do título, que o narrador, um homem com ambições literárias, conheceu numa praia. Juntos recordam as grandes revoluções e convulsões do século XX, desde a ascensão do comunismo à caça ao homem que Estaline ordenou para tirar Tróski do mapa.
O HOMEM QUE GOSTAVA DE CÃES
Leonardo Padura
Porto Editora
4 de Abril
As suas obras sempre resistiram a classificações e a rótulos que as reduzissem a um único género. E estas “Prosas Apátridas” são o melhor exemplo dessa fusão literária. Não são poemas, nem ficções, nem ideias para mais tarde desenvolver. São, isso sim, testemunhos de um escritor atento ao mundo em que viveu, do Peru onde nasceu, em 1929, até à Europa que o recebeu, no início da década de 50. Aqui, Júlio Ramón Ribeyro assina um livro sem pátria e, por isso mesmo, universal.
PROSAS APÁTRIDAS
Júlio Ramón Ribeyro
Ahab
28 de Abril
“Não é possível provar que Deus não existe, mas a Ciência faz com que Ele seja desnecessário”. Eis o argumento central do novo ensaio de Stephen Hawking (com a colaboração de Leonard Mlodinow) e que tanta polémica tem gerado em vários pontos do mundo onde o Criacionismo ainda é considerado uma fidedigna explicação do universo. Revendo mais de 40 anos de investigação e a obra de vários cientistas, Hawking regressa ao seu campo de batalha preferido: as relações (e conflitos) entre a religião e a ciência.
O GRANDE DESÍGNIO
Stephen Hawking e Leonard Mlodinow
Gradiva
18 de Abril
Texto publicado no Jornal i, a 29 de Março de 2011.
Não sei se foi pelo hype, se foi pelo "factor Obama", mas a verdade é que tenho imensa curiosidade em ler Franzen. A chegada deste Liberdade vem agravar o estado das coisas. :)
ReplyDelete@fragmagens: é o livro do momento. E é um retrato muito interessante da América ou pelo menos da forma como a América se vê. É essencialmente por isso que é um livro a não perder. Boa leitura.
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