Enquanto preparo a viagem, leio na nova edição da Quetzal as notas que Raul Brandão escreveu sobre a Madeira em As Ilhas Desconhecidas:
"13 de Agosto de 1924
Nunca mais me esqueceu a manhã virginal da Madeira e as cores que iam do cinzento ao doirado, do doirado ao azul-índigo - nem a montanha entreaberta saindo do mar diante de mim, a escorrer azul e verde...
14 de Agosto de 1924
As palavras pouco exprimem nestes casos: o principal na Madeira é a luz que cria e tanto amadurece o panorama como os frutos, porque a única imagem que encontro para este conjunto é a dum fruto maduro que tomou pouco a pouco, com os vagares de quem não tem mais que fazer, as cores do Sol, as da manhã e do poente, e que chegou a um estado perfeito que delicia e perfuma ao mesmo tempo. A terra emerge da tinta azul com os tons quentes do ananás, que é o morango dos trópicos - paraíso sem frio nem calor, a que se junta ainda o sabor dos vinhos bebidos aos golos e cuja transparência se avalia através do vidro erguendo-o para a luz. A luz! dar a luz, seria tudo, mas só um pintor encontra este doirado.
24 de Agosto de 1924
Agora conheço melhor a Madeira. Passado o primeiro entusiasmo, vejo tudo a frio. Esta ilha é um cenário e pouco mais - cenário deslumbrante com pretensões a vida sem realidade e desprezo absoluto por tudo que lhe não cheira a inglês."
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