Monday, March 19, 2012

Um prémio para Einar Már Guðmundsson


Foto de Joana Beleza


Não é preciso um prémio de carreira, por mais importante que seja, para perceber que toda a vida de Einar Már Guðmundsson tem sido dedicada à literatura. Quem já teve a sorte de entrar no seu atelier, ao lado da sua casa, num bairro dos arredores de Reykjavík, não terá deixado de ficar impressionado com os livros que se acumulam nas estantes, o computador com marcas de muito uso, os manuscritos em cima da mesa, os blocos cheios de rabiscos e a taça de café sempre cheia, ao lado do termo que o mantém aquecido.
Nascido em 1954, Einar Már Guðmundsson estreou-se em 1980, com uma recolha poética intitulada, na tradução inglesa, Is Anyone Here Wearing The Korana Line? Esse livro inaugural ocupa hoje uma ínfima parte das prateleiras que, no atelier, atribuiu aos seus livros e traduções. São em número considerável e um motivo de orgulho. Conhecido em toda a Escandinávia, Einar Már é respeitado não só pelos livros mas também pela intervenção cívica. A título de exemplo, lembre-se que foi um dos oradores mais ativos nas manifestações que denunciaram as fraudes financeiras dos bancos islandeses, na sequência da bancarrota de 2008, pela qual o primeiro-ministro de então está a ser julgado e que deu origem a um empréstimo do FMI que já foi parcialmente pago. Um escândalo que relatou em The White Book.
Mas Einar Már é também muito conhecido na Europa, sobretudo na Alemanha, Itália e França. À sua estreia literária, seguiram-se outros dois volumes de poesia, Loneliness of the Delivery Boy e Robinson Crusoe Returns Home. Num ritmo regular (um livro por ano ou, no máximo, de dois em dois), foi consolidando o seu nome junto dos leitores, lançando romances, contos, livros para crianças e ainda mais poesia. Isto até 1993, quando publicou aquele que é o seu título mais famoso, Anjos do Universo, felizmente publicado em Portugal, infelizmente numa edição há muito esgotada (Canguru, 2003). É daquelas obras que fazem uma carreira, mesmo quando, ao mesmo tempo, a reduzem a um único livro. Valeu-lhe, em 1995, o Nordic Literature Prize, conhecido como “o pequeno Nobel” ou o “Booker Prize da Escandinávia”. Recebe-o agora pela segunda vez, pela totalidade do seu trajeto literário, algo que já tinha acontecido a outros dois escritores islandeses: Thor Vilhjálmsson e Guðbergur Bergsson.
Além dos prémios, Anjos do Universo, adaptado ao cinema por Friðrik Þór Friðriksson, ocupa um lugar especial na escrita de Einar Már. Baseado na curta vida do seu irmão, conta a história de um conjunto de doentes mentais internados num hospício, os seus sonhos, angústias, aventuras, desejos, inquietações, medos e pulsões. Como em Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, ou em muitos outros livros que pegam nessa forma literária, o narrador recorda a sua vida depois de morto, nomeadamente os conflitos familiares, a inadaptação social e a progressiva deriva para aquela território em que a razão dá lugar a forças que a razão desconhece. Neste livro, há sofrimento, incompreensão e autismo, mas também uma centelha de felicidade. E é essa capacidade de intuir nestas personagens emoções tão contrastantes que fazem de Anjos do Universo uma leitura inesquecível.
Só pelo título, de Einar Már gostava de ler o romance Epilogue of Raindrops, mas ainda não o consegui comprar. Contento-me com a poesia que me enviou por e-mail. A mesma que aqui partilho convosco.


The Girl You Loved

Revolution is like the girl you once loved.
You thought she loved you too
and you would never love any other.
But one day she ditched you.
Your sorrow was an abyss in the void of days.
Now, much later, you see there was nothing to her
and are astonished you should ever
have fallen in love with her.

And yet, if the magnetism that attracted you to her
is no longer in your heart …
for the girl you loved once
is not the girl you loved
but rather the yearning,
the quest that set off with you
not to find,
but to search for what you lost
to be able to lose what you found.

A Warcry From North

You who live  with an island in your heart
and the vastness of space
a sidewlk beneath your soles.

Hand me the Northern Lights!
I shall dance with the youngster
who is holding the stars.

We peel the skin from the darkness
and cut the head off misery.

Robinson Crusoe Returns Home

— the taxi driver
who drove me beyond the city limits
took my football in pawn
my colouring books have been
confiscated
my darling
you make sure the bailiffs
don’t get their hands on my aquarium
you mustn’t tell on me
I know the cops are looking for me
they’ve photographed me from all sides
the evening papers are reporting that I’m wanted
you promise not to say a word,
they’re looking for me
among the gangsters in the bars
and the libraries
have already handed in all the famous five books
for fingerprinting
now they’re combing the beaches
and I just heard on the radio 
that the airports have been closed.



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