Friday, February 3, 2012

Ler e reler Borges


Não é só quando o leitor inicia uma nova leitura que a obra de um escritor renasce. É também nas várias edições que os seus livros vão tendo, sinal de como a posteridade cuidou do que escreveu. Integralmente  publicado em Portugal, Jorge Luis Borges começa hoje uma nova viagem, agora no comboio da Quetzal. A chancela do grupo Bertrand/Círculo faz chegar hoje às livrarias os dois primeiros volumes de um programa de edição dedicado a um dos maiores escritores do século XX (e não só). Esta iniciativa, que começa com os ensaios reunidos em História da Eternidade e a colectânea de contos Livro de Areia, tem por si só o mérito de devolver ao leitor os livros individualizados, já que nas livrarias apenas se encontrava disponível (com uma ou outra excepção) os cinco tomos das Obras Completas (editados pela Teorema). Assim, como num puzzle, peça a peça, poder-se-á desvendar o gigantesco labirinto literário que Borges foi compondo ao longo da sua vida, fruto de uma desmesurada paixão pela leitura. E estes lançamentos iniciais ilustram bem a variedade e, ao mesmo tempo, a unidade dos seus interesses. As ideias de duplo, manuscrito encontrado, ambiente fantástico, amor, morte, historia interrompida (e completada por quem lê), eterno retorno e círculo vicioso percorrem estes textos e contos, desafiando-nos a compor, através de uma leitura contínua, esse livro infinito que um dia terá ido para às mãos de Borges. "Disse-me que o seu livro se chamava o Livro de Areia, porque nem o livro nem a areia têm princípio nem fim". O gosto de ler Borges também não. 

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