No coração do convento
Poetisa, romancista e co-autora de uma das obras mais emblemáticas da Literatura Portuguesa (“Novas Cartas Portuguesas”), Maria Teresa Horta publica agora aquele que será sem dúvida o seu grande livro: “As Luzes de Leonor”, uma biografia romanceada de Leonor de Almeida Portugal, neta dos marqueses de Távora e sua quinta bisavó. Ao longo de mil páginas, Teresa Horta mistura vários registos e géneros literários, da poesia ao diário, da ficção à história, para fazer sobressair esta figura única que, em 1758, foi enclausurada no Convento de S. Félix juntamente com a mãe e irmã. Tinha apenas oito anos quando o futuro marquês de Pombal traçou o seu destino e só saiu aos 27. Mas nessa altura já Portugal se agitava com o que se dizia da sua beleza e com a qualidade da sua poesia. Um romance no coração do convento.
AS LUZES DE LEONOR
Maria Teresa Horta
Dom Quixote
29 de Maio
Nas habituais previsões antes do anúncio do vencedor, “C”, do inglês Tom McCarthy, era tido como o grande favorito no Man Booker Prize de 2010. Mas o prémio não foi parar às suas mãos, o que reforça a ideia dos prognósticos só serem certeiros no fim do jogo. Fica, no entanto, o mais importante: a obra. E não é pouco. “C” é um extraordinário romance sobre a arte da comunicação, que Serge Carrefax aprenderá a dominar desde os tempos do telégrafo aos códigos secretos da Primeira Guerra Mundial.
É o caminho que faz a viagem, não o destino. Esta talvez não seja uma máxima partilhada por todos os viajantes, mas é a que distingue Paul Theroux, que tem percorrido os quatro cantos do mundo recorrendo quase sempre a transportes terrestres. Um dia, saiu de casa, nos EUA, e só parou na Patagónia, no extremo da América do Sul. Em “O Grande Bazar Ferroviário” conta-nos como atravessou a Europa e a Ásia de comboio, a bordo do Expresso do Oriente, Transiberiano, Expresso da Meia Noite e Flecha de Ouro.
“Este livro não tem brandos costumes. Nem nós”. Eis como Rui Cardoso Martins apresenta o primeiro de dois volumes sobre o crime e o castigo na História de Portugal. E não se trata de uma conclusão apressada. É a que se impõe após a leitura destes episódios que desfazem o mito do país sereno à beira-mar plantado. Em Portugal, como em qualquer país, existe violência, mesmo quando é escondida. Pedro Almeida Vieira revela-a, citando processos judiciais, artigos de imprensa e memórias populares.
África é uma das grandes paixões de Tim Butcher, à qual tem dedicado grande parte da sua vida. Na origem desta atracção estão as histórias de exploradores destemidos que a mãe lhe contava quando era criança. E foi com igual coragem que Butcher atravessou o “caminho da morte”: a Serra Leoa e a Libéria. A reportagem que nos deixa em “À Caça do Diabo” é uma viagem pela violência que assola esses países e pelas aventuras de outros escritores que por ali andaram, em particular Graham Greene.
À CAÇA DO DIABO
Tim Butcher
Bertrand
13 de Maio
Dubravka Ugresic é uma das mais importantes escritoras nascida na antiga Jugoslávia. Publicado em 1998, “Museu da Rendição Incondicional” é um livro de difícil classificação, na medida em que é feito de fragmentos. A vida no exílio é o fio condutor das personagens que vão sendo convocadas pela escritora em pequenos contos, excertos de diários, biografias de artistas, descrições de cidade e memórias de outros tempos, que não esquecem o Holocasto e a guerra civil que dividiu os Balcãs.
MUSEU DA RENDIÇÃO INCONDICIONAL
Dubravka Ugresic
Cavalo de Ferro
23 de Maio
Texto publicado no Jornal i, de 26 de Abril de 2011.
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