Saturday, April 2, 2011

Diário da Madeira 41


Era para ser a prova cabal da constância literária. David Machado e João Tordo tinham um plano, como o primeiro revelou na terceira mesa do Festival Literário da Madeira, em que participaram ainda Inês Pedrosa, Raquel Ochoa e Ana Margarida Falcão. Escrever uma série de policiais sobre um assassino que entra em acção no primeiro dia de cada mês. Sem excepções. Um killer metódico, cerebral e eficaz. Só que lá para o meio haveria de surgir um pequeno incidente: em Abri ele só conseguiria matar no dia 2. Seria o início de uma grave crise pessoal, um momento de dúvida, um drama existencial.
Alinhadas as ideias principais da história e da colecção - doze livros, em doze meses, doze capítulos com dez páginas cada -, avançaram para questões mais práticas: o ritmo da escrita, a alternância da autoria dos capítulos, o evoluir da narrativa.
Está bom de ver que nem o Stephen King estaria à altura de tamanha tarefa. E aos poucos os problema apareceram. Enquanto o João Tordo escrevia um capítulo num dia, o David Machado levava três. E com o autor de Deixem falar as pedras a coisa ainda piorava nos dias em que não comprava o jornal e não completava o seu habitual e inspirador sudoku. Está bom de ver que a constância literária não é tarefa fácil. Daí a proliferação de escritores inconstantes a que o título da mesa alude. Até porque, como defendeu Inês Pedrosa, "escrever é lutar contra a constância da vida, que é um nada que tem de ser preenchido. Com palavras".

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