Friday, March 11, 2011

Os alunos de Amalfitano

"E o que aprenderam os alunos de Amalfitano? Aprenderam a recitar em voz alta. Memorizaram os dois ou três poemas que mais amavam para os recordar e recitar nos momentos oportunos: funerais, casamentos, solidões. Compreenderam que um livro era um labirinto e um deserto. Que o mais importante do mundo era ler e viajar, talvez a mesma coisa, sem nunca parar. Que no fim das leituras os escritores saíam da alma das pedras, que era onde viviam depois de mortos e instalavam-se na alma dos leitores como numa prisão fofa, mas que depois essa prisão alargava-se ou explodia. Que todo o sistema de escrita é uma traição. Que a poesia verdadeira vive entre o abismo e a felicidade e que perto da sua casa passa o caminho real dos actos gratuitos, da elegância dos olhos e da sorte de Marcabru. Que o principal ensinamento da literatura era a coragem, uma coragem rara, como um poço de pedra no meio de uma paisagem lacustre, uma coragem semelhante a um torvelinho e a um espelho. Que não era mais cómodo ler do que escrever. Que lendo se aprendia a duvidar e a recordar. Que a memória era o amor. "

In Os Dissabores do Verdadeiro Polícia, de Roberto Bolaño (Quetzal).

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