Friday, March 25, 2011

II Encontro Livreiro em Setúbal


Foi na Culsete que aprendi muito do que hoje sei sobre os livros. Durante os anos em que vivi em Setúbal, aquela foi uma espécie de segunda casa. E a uma segunda casa regressa-se sem hora marcada, por impulso. Era ali que fazia as compras habituais, dos livros escolares às necessidades dos meus pais, mas era sobretudo ali que voltava sempre que tinha uma tarde livre ou uma hora para preencher. Sabia, de antemão, que teria à minha espera um livreiro atento, disponível e com muito para partilhar. O sr. Medeiros tinha o dom de nunca acabar uma conversa. O que começava num dia recomeçava no seguinte e depois no próximo e assim por diante. Nessa torrente de sugestões e de histórias formei a minha personalidade e descobri a paixão pela leitura. Em alguns casos, seguindo as suas dicas, noutros fazendo as minhas próprias escolhas enquanto navegava pelas estantes. Lembro-me do seu sorriso quando encontrei quatro velhas edições das Vidas Paralelas, de Plutarco, que estavam guardadas para exploradores com tempo. Lembro-me da inesquecível recitação da Epístola aos Vindouros, do Carlos Queiroz, que ouvi num final de tarde, naquele preciso momento em que o sol já se pôs e a luz artificial ainda não atraiçoou a noite. Lembro das muitas vendas de livros durante a Feira de São Tiago, em que a compra de um livro se juntava à festa das farturas e dos carrinhos de choque. Por me lembrar de tudo isto tenho pena de não poder ir ao Encontro Livreiro que o sr. Medeiros dinamiza anualmente no final de Março. A II edição é já este domingo, 27, a partir das 15 horas. Para compensar esta ausência só posso dizer, citando o slogan do encontro, que "isto não fica assim". Quando acabar a recolha dos inquéritos dos Censos 2011, que me ocupará todos os fins de tarde e fins-de-semana até ao final de Abril, uma visita está prometida.

2 comments:

  1. Partilho tudo, mas descobri-o já adulta, na vida que passou a ser nesta cidade.

    (tenho tanto receio que feche)

    ~CC~

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  2. @CCF: Da Culsete só tenho boas memórias. Que possa continuar aberta por muitos mais anos e a inspirar leitores.

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