Monday, February 28, 2011

Óscares: primeiras impressões

1) Cerimónia frouxa, pouco interessante. Nem uma piada para mais tarde recordar. Nem um discurso memorável. Apresentadores bem comportados. Nada mais.

2) Dez filmes, só uma grande produção (A Origem). Hollywood teve um ano de suspensão. A ver o que a crise arrasa e o que o futuro reserva. Neste contexto quem mais se destacou foi a figura do Actor. O Discurso do Rei, A Rede Social, O Cisne Negro e o Último Combate, só para referir os principais vencedores da noite, são filmes que assentam no trabalho de representação. Há um bom trabalho de som e de montagem no Cisne Negro e alguns arrojos formais em o Último Combate, mas o que eleva estes filmes acima da mediania são os extraordinários actores que os representam.

3) O Discurso do Rei. Não era o meu favorito. Aliás, este ano não tinha um filme favorito. Mas a segundo obra de Tom Hooper foi das que mais me tocou. Não tem a força dramática do Cisne Negro, nem a actualidade do Facebook, mas é uma história bem contada e sobretudo muito bem filmada. Ficaram-me na memória diversos enquadramentos do Rei e do seu terapeuta, sobretudo aqueles que puxavam o típicos papéis de parede ingleses para primeiro plano, compondo autênticas pinturas. Além disso, parece-me que a opção por uma abordagem fechada a uma das épocas mais importantes da História recente da Humanidade (o início da II Guerra Mundial e da resistência inglesa) não afecta o filme. É verdade que se fala pouco de Hitler e do que então se passou, mas este não é um filme sobre História. É um filme sobre uma amizade. Uma bonita amizade.

4) Tudo isto faz de O Discurso do Rei um grande filme merecedor de um Óscar? Não, mas a concorrência também não era melhor. Não há injustiçados. Premiar A Rede Social seria distinguir mais a web 2.0 do que o filme.

5) Um dado curioso: os dois favoritos, A Rede Social e o vencedor O Discurso do Rei, falavam de temas parecidos: a nossa intimidade e a nossa virtualidade. Com as devidas diferenças, o Facebook está para o início do séc. XXI, tal como a Rádio está para o início do séc. XX. Com os dois, pudemos (ontem) ou podemos (hoje) chegar mais longe e entrar na casa e na vida das pessoas. Num caso, a uma escala global, no outro, presos às esferas do poder (como por exemplo o Rei). Mas no fim de contas o que importa é a utilização que damos a esta capacidade de partilharmos o nosso mundo pessoal e de estarmos virtualmente em muitos sítios e com muitas pessoas. Para Jorge VI, a voz foi uma das armas mais eficazes contra o nazismo. E, hoje, para que servem as redes sociais? Dos jantares de turma às manifestação na Tunísia e no Egipto, a conclusão está à vista. As redes sociais são a voz do "povo". Tão poderosa como o éter.


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